O mar deste quarto não tem praias,
nem serve de limites. Traz as mágoas,
mas não me leva a ti. Traz os peixes,
mas não fisga a dor, nem cicatriza a fome.
O mar deste quarto é sem graça
e transborda pesadelo para o sonho.
É reflexo da falta que me fazes,
verde corrosivo, azul com teu nome.
O mar deste quarto não tem superfície,
nem me serve pra navegar. Traz teu vulto
como um barco. Traz teus olhos
mas não traz teu olhar.
O mar, neste quarto, solitário,
sem praias, sem barcos, sem mar,
é só a presença da tua ausência,
absoluta saudade de te amar.
(poema publicado no livro Laço e nó (Rio de Janeiro: Elo, 2000)
5 comentários:
É sal de lágrimas e mais denso que o Morto: Este é o mesmo mar seco no qual navegamos todos algum dia...
:
Em um belo paralelismo, as imagens se liquefazem e desebocam no próprio mar do poema, num lirismo rítmico que ultrapassa o quarto, e atinge a rua: como então cicatrizar a fome? a fome do outro, mesmo que a ausência seja feita de saudades.
Beijo poético-parauara, Chris.
Merivaldo
:
o medo ao lê-la é afogar-se nesse mar.
Sérgio Gerônimo
sempre fã
CRIS,
Esta poesia mistura dor e saudade.Muita linda e condizente com a sua sensibilidade.
beijos
amiga Laura- RJ
Chris, estamos com saudade da amiga e da madrinha de Amon. Eloá, Murilo,Amon.
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