24 de set. de 2009

Tia Rachel

Eu sou a "quase filha",
e, por ser "quase",
tenho mais que lágrimas:
tenho aquela parcela
de comedimento
aquela capacidade de lucidez
que só tem
quem não é carne viva
por inteiro.


Você gostaria dessa foto.
Eu sei que gostaria.
Nela você é o que sempre foi.
Grande estrela.
E você sabia que era.
E, por isso, era
escandalosamente
você.
Por isso,
as feridas abertas na carne,
as unhas fincadas na terra,
o olhar agudo e a mulher terna
(para quem sabia
a estrela que era).
E, por isso, se foi assim:
deixando a dura lição
de partir feliz e radiosa
contrariando a máxima
de que a morte
é uma despedida triste
da alegria da vida.

Mais uma lição da minha tia:
partir majestosa,
dando um olé na vida,
para seguir estrela
pela próxima.
Que orgulho tenho
de que chegue assim,
inteira,
quando antigos prognósticos
diriam: "se foi a pobre Rachel..."
Pobre é quem não sabe
dos tesouros que você
soube criar
transformando pó em ouro,
alquimista dos reveses.

Vai, minha tia,
minha estrela.
Sua luz fica aqui
brilhando nas jóias irmãs
que tenho
e um pouco em mim
também,
"quase filha" que fui
nos braços seus
que me embaralaram
quando vivi meus reveses.

19 de set. de 2009

Buhardilla

luzes idéias
livros telas
canto descanso remanso
tintas recortes
fotos velas
um pouco de tudo
o nada
e eu
metida nela.

12 de set. de 2009

Despertador

O que me toca
nesta hora
é susto.
Não.
A vida, sim,
é susto
................................sem botão para apertar
hora após hora
susto após susto
até o despertador
................................tão indesejado das gentes.