23 de mar. de 2013

Álbum imaginário



Meus olhos têm o hábito
de espiar as cenas da vida
ora por frestas de portas
ora em janelas tardias
ora ainda nas auroras
que reinventam os dias.

Nessa busca pela imagem
tantas vezes escondida
habita o desejo secreto
de flagrar na paisagem
algo de santo, sagrado
repousado num relance
que pode ser flor ou bicho
que pode ser casa ou gente.
Algo, enfim, onde habite
a magia que se sente
quando alma, cor e forma
em um momento solene
compõem um traço divino
que eterniza o presente

Assim chegou a  meus olhos
um par rimando seus gestos.
Ele, na oferta do abraço,
Ela, em pleno aconchego.
O sol, brilhando na praça,
O mar, cedendo seus versos.
Sem lentes para guardar o tempo,
convertendo emoção em matéria,
restou-me um flash impalpável
que ficará certamente
no álbum imaginário
que visito constantemente.
Porque ali a vida vive
muito além desta esfera
onde impera intratável
um monstro chamado Quimera.

Ao contrário, nesse álbum
enfeitado de esperança
encontro a centelha divina
que de amar não se cansa.