13 de nov. de 2007

Absoluta saudade

O mar deste quarto não tem praias,
nem serve de limites. Traz as mágoas,
mas não me leva a ti. Traz os peixes,
mas não fisga a dor, nem cicatriza a fome.

O mar deste quarto é sem graça
e transborda pesadelo para o sonho.
É reflexo da falta que me fazes,
verde corrosivo, azul com teu nome.

O mar deste quarto não tem superfície,
nem me serve pra navegar. Traz teu vulto
como um barco. Traz teus olhos
mas não traz teu olhar.

O mar, neste quarto, solitário,
sem praias, sem barcos, sem mar,
é só a presença da tua ausência,
absoluta saudade de te amar.

(poema publicado no livro Laço e nó (Rio de Janeiro: Elo, 2000)

5 comentários:

flâneur desvairado disse...

É sal de lágrimas e mais denso que o Morto: Este é o mesmo mar seco no qual navegamos todos algum dia...

Anônimo disse...

:

Em um belo paralelismo, as imagens se liquefazem e desebocam no próprio mar do poema, num lirismo rítmico que ultrapassa o quarto, e atinge a rua: como então cicatrizar a fome? a fome do outro, mesmo que a ausência seja feita de saudades.

Beijo poético-parauara, Chris.

Merivaldo


:

SERGIO GERONIMO ALVES DELGADO disse...

o medo ao lê-la é afogar-se nesse mar.
Sérgio Gerônimo
sempre fã

Anônimo disse...

CRIS,

Esta poesia mistura dor e saudade.Muita linda e condizente com a sua sensibilidade.
beijos
amiga Laura- RJ

Murilo da Costa disse...

Chris, estamos com saudade da amiga e da madrinha de Amon. Eloá, Murilo,Amon.