Parto não porque queira
ou porque seja mais sensato
parto porque é outono e eu sou a folha
que lentamente derrama na estrada o seu fim.
Parto não porque possa
nem porque deva
nem porque esqueça.
Parto porque é dia e eu sou a luz
da última estrela.
Quem sabe parta porque só assim
possa renascer em mim outro ser.
Quem sabe parta porque ter um fim
é destino certo de toda viagem.
Mas a despedida
atenho adiada
e calada fico
vendo-me partir.
Morro como o sol no horizonte da lembrança
folha que o vento leva em sua andança
e que nenhuma primavera
traz de volta ao amanhecer.
(Musa Carmesim. Campos do Jordão: Vertente, 1998)